Apresentação do Livro “Lia no país da poesia”, de Leocádia Regalo e Maria Guia Pimpão, Editora Palimage

Nota: Apresentação realizada na Casa dos Açores Norte, Porto, a 06 de Junho de 2015, às 16:00. Com a presença do Dr. José Manuel Rebelo (Presidente da Assembleia Geral da Casa dos Açores do Norte), Dr.ª Mafalda (Colaboradora da Casa dos Açores do Norte), Dr.ª Regina Rocha, responsável pela apresentação do livro na sua vertente poético-literária, Dr. Jorge Fragoso (Editor / Ed. Palimage), Dr.ª Leocádia Regalo (Poetisa e autora), Dr.ª Maria Guia Pimpão (Pintora e autora), e do público que nos brindou com a sua presença e simpatia. A vertente da minha apresentação do livro foi a da pintura da Guia que o ilustra, a cada poema e a capa, magistralmente!

É com muito prazer que faço esta apresentação do livro Lia no País da Poesia, com poesia de Leocádia Regalo e pintura de Maria Guia Pimpão.

Não obstante a grande amizade que me liga a estas duas Mulheres de Cultura, é conhecido o mérito que lhes reconheço nos seus campos artísticos. A Leocádia e a Guia já participaram com a Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro em vários projetos: A Ruralidade na Arte; Exposição Metapoética Pictórica Sob A Égide da Lua; participação de ambas na Estações D’Arte 2014 Outonos Inquietos. Sempre com o entusiasmo e o fervor de quem Ama a Cultura, a Arte e as Pessoas.

Sob a minha secretária de trabalho nessa Fundação, encontra-se uma obra da Guia, E Por Vezes as Noites Duram Meses…, e num dos livreiros encontraremos a obra poética de Leocádia: Passados os Rigores da Invernia; Pela Voz de Calipso; Sob a Égide da Lua; Tons do Sul; Lia no País da Poesia é a conjugação destes dois nomes num diálogo com a poesia, onde a pintura intenta uma sensibilidade crescente, na infância, para as artes.

Começo esta minha apresentação com uma frase do pintor francês Eugène Delacroix, numa carta a Pierret, 1822: “Nunca antes senti emoções tão intensas ao ler coisas tão boas; uma boa página deixa uma bela impressão em mim, que dura por vários dias. Detesto escritores irreais que só têm estilo e pensamento sem uma fonte verdadeira e sensível.”

O diálogo entre texto e imagem foi uma busca constante pautada pela modernidade do Romantismo e grande preocupação para o encontro de concepções da imagem poética, reflexo intertextual entre a poesia e a pintura, atingindo a alma artística da poesia da imagem. Nesta perspectiva da Metapoesia Pictórica, a expressão por excelência está contida no Belo e não necessariamente nas palavras. Aqui o Poeta critica a obra do Pintor e reclama uma leitura própria da obra, também esta, uma outra, recriando a obra de arte na génese e na forma; conteúdos ímpares de palavras omnipresentes que se entrelaçam e se transmutam na Beleza: cor, movimento, sensações, emoções. Inocência? Antes, o abrir das amarras do comum e saltar para o âmago de uma mise-en-scène de trocas entre a Poesia e a Pintura, construindo um diálogo entre a literatura poética e a estética pictórica, fecundando a alma do espectador com a semente do movimento artístico global, sempre transdisciplinar. Os ecos intertextuais entre Poesia e Pintura atingem uma nunca antes conseguida dimensão no poema de Charles Baudelaire (1821-1867) que presta homenagem à obra “ Le Tasse à l’ hôpital des fous” de Eugène Delacroix (1798-1863), representando o poeta do Renascimento italiano Torquato Tasso (1544-1595), autor do poema épico “La Gerusalemme Liberata”.

Neste livro, Maria Guia Pimpão, na sua pintura de magnificência de formas e de movimentos a e para nós, espectadores famintos de cumplicidade e ligeireza de compreensão, traduz nas telas aqui reproduzidas, num traço auto-retratista, uma pintura por sobre névoas da Lua e a claridade da sua alma que vagueia por entre figuras ou metáforas que nos obriga a conquistar, olhando.

Nestas obras, as personagens, reinventadas poeticamente, deslocam-se em doçura e firmeza, com pinceladas ritmadas e leves que contrariam a representação pictórica, num exercício mediúnico que nos dá o universo feminino, artístico, amoroso, transportando-nos de forma cénica duma historicidade presente e latente, para uma cumplicidade da autora que reinterpreta movimentos circulares, moldando sonhos que comprometem o espectador / leitor.

Em Guia, a permeabilidade de realidades sobressaem em telas replectas de Memória, sentimentos e vivências urbanas versus rurais em paralelo, e “causa nostra” da artista que se desvenda numa paleta própria e emergente de vida.

Os olhares lânguidos das personagens escondem humores próprios de quem reclama ser notado. Adormecer em encantos de olhares lânguidos é chamar os sonhos de justos fazedores de uma qualquer realidade transfronteiriça entre o que somos e o que queremos mostrar: É uma pintura auto-emotiva. As sua composições, nesta obra literária com a Leocádia e a sua métrica poética, são trans-vivenciais: Filha, Mãe, Avó, Mulher, Urbana, Rural, Pedagoga.

Acabo com uma frase de Charles Baudelaire, in A Invenção da Modernidade, 1846: “Mas tereis que estar aptos a sentir a beleza; é que, tal como hoje nenhum de vós pode dispensar o poder, também ninguém tem o direito de dispensar a poesia. Podeis viver três dias sem pão; sem poesia, nunca; e aqueles de vós que dizem o contrário estão enganados: não se conhecem.”